segunda-feira, 4 de abril de 2011

Trabalho de História

   Há sangue no     capim.                                                                                                                                                                  

  Seria injusto não escrever, nesta capa da minha vida, um comentário da guerra colonial.  
  Pela experiência de vida e pelos seus relatos, o meu pai é sem dúvida um bom intérprete desta minha crónica
  Naquele tempo o nosso governo era então formado por Salazar, ( em 1968 após uma queda, foi substiuído por Marcelo Caetano) , Américo Tomás era o presidente da República.
  A política praticada era dum regime extremo! Não havia liberdade de expressão, nem qualquer texto de redacção podia ser publicado e quem não obedecesse teria que prestar contas à  polícia do governo “PIDE”.
  Ninguém tinha o direito de dizer não à guerra. Salazar não via com bons olhos a entrega dessas colónias, como Angola e Moçambique pois eram muito ricas.
  Foi declarada guerra aos invasores em 1961. Inimigos que invadiram as fazendas, fazendo mortos e centenas de reféns.
  O meu pai embarcou no ano de 1966, em Lisboa, no paquete “Uize” e demorou 21 dias em alto mar até chegar a Angola, mais precisamente ao Caio de Alcântara de Luanda.
  Já em Luanda, tinham um primeiro contacto com a pura realidade do terreno. Havia perigo ao virar de qualquer esquina. Tinham de andar sempre em bloco para não serem surpreendidos.
  Depois de cumpridas todas as normas estes soldados eram destacados por toda a Angola e outros ficavam já em Moçambique.
  Vila Pimpa foi a zona de guerra do meu pai. Ficava a cerca de 420 km do campo de treinos do Grafanil Luanda. Essa viagem foi feita em carros animogues com para peitos e demoraram cerca de seis dias para chegar ao destino, em média 70 km por dia.
  Os Dembros eram os grupos armados da “UNITA”. O seu líder era o nosso  conhecido Jonas Sabimbi, “MPLA” e “UPA” que mais tarde se uniram também. Eram grupos que combatiam o exército português.
  O quartel-general da “UNITA” era no Bico de Pato e nunca nenhuma companhia conseguiu lá entrar, pois a cada emboscada havia sempre muitos mortos e feridos; o terreno era duro, com os seus altos morros perfurados pelos túneis do inimigo.
  Tempos de guerra e saudade. Na mata onde haviam grandes combates, muito sangue foi derramado no capim, muitas noites perdidas e alguns sonhos desfeitos…
  Nem só o inimigo matava; as doenças como o paludismo, stress de guerra e alguns animais perigosos, como por exemplo, a “bicha Surucuco”meia amarelada, com 50 cm, tinha normalmente seis dentes furados para injectar um litro de veneno, depois de mordido sete minutos de vida era o que lhe restava.
  Lá se passavam dias, meses, anos, até ao tão esperado momento de embarque…pareciam tempos eternos…
  Para chegar a Portugal, o verdadeiro Portugal. O meu pai viajou no paquete Vera Cruz, que demorou apenas oito dias de viagem, “grande máquina” assim o descreveu.
  Por ter tido um bom desempenho teve direito a 2ª classe de passageiro, mas mais importante era o regresso às origens.

 José António Pinto Lourenço com a colaboração das memórias do meu pai António Dias Lourenço.
Combatente nº92684/66




 Trabalho de pesquisa de José Lázaro , 6º Ano